Cruz Alves - Reflexão sobre a Adolescência - Parte IV


Psicologia do Adolescente

  • A Família na Construção do Adolescente


    A identificação do adolescente com a Família passa pela preparação que os adolescentes tiveram já com a Família na sua fase de criança.

    (...) a família tem sido encarada como o "ponto crucial da identidade". (Sprinthall Norman A. & Collins W. Andrews, Psicologia do Adolescente, Fundação Calouste Gulbenkian, pág. 295).

    Efectivamente é na Família que o jovem encontra a estabilidade ou a instabilidade, a razão da sua existência, ou a angústia permanente se o ambiente familiar não lhe for favorável. Assim a integração e a coerência pessoal, que Erikson considerava ser a principal realização da adolescência, depende em larga escala do desenvolvimento social, intelectual e emocional que é fomentado pelas relações familiares. (ib. idem)

    Na realidade é na Família que se processa o amadurecimento do jovem. É aqui neste núcleo da sociedade que o adolescente sofre mais influências, por as ter já sentido ao longo do seu processo de crescimento e desde o seu nascimento, onde criou e desenvolveu várias interacções e onde experimentou as suas transformações primárias - a nível físico, cognitivo e social.

    Portanto, é na Família que o adolescente afirma a sua Identidade e o seu Eu, sofrendo as influências desta no seu processo de desenvolvimento. E é na Família que o jovem adolescente se revê, à medida que afirma o seu psíquico e o seu corpo, ficando mais adulto, criando uma desidealização cada vez mais progressiva. Desidealização esta, que não será o afastar-se e romper os laços com a Família, mas será e tão só, a criação de uma independência própria, uma afirmação do seu Eu. Processo este que não será tanto ou mais prolongado, quanto os pais exerceram a sua função, leia-se autoridade, durante toda a vida e principalmente durante a infância, em parâmetros ligados ao social e emocional.

    Claro que é no seio da Família que o adolescente tem a possibilidade ímpar de se mostrar tal como é, exprimindo livremente as suas opiniões de carácter, as suas emoções e vontades e porque não, criando as tais dificuldades de comunicação entre estes e os progenitores, tanto mais evidentes se estes sofreram a influência de pais autocráticos. Se considerarmos que muitas vezes, a adolescência ocorre precisamente, quando os pais passam também por uma crise de identidade, designada por crise de meia-idade, pelo facto de estes andarem muito tensos, pela interrogação do emprego, geralmente ascensão profissional, poder-se-á também compreender, a dificuldade que o adolescente possui no seu desenvolvimento físico e social, quando estes pressentem essa instabilidade por parte dos pais. Portanto, pode-se considerar que no momento em que o adolescente está a sofrer modificações profundas, os pais também o estão, por motivos profissionais e biológicos, associados. E se os pais mudam, os adolescentes também, e conforme a mudança parental assim a influência destes se vai transmitir aos filhos, e a toda a comunidade familiar.


    A criança por ter sofrido um processo de socialização específico quanto às atitudes parentais, assim irá corresponder no seu futuro global, e com uma nitidez observável aquando adolescente, em que a autoconfiança, o autocontrolo, a curiosidade e a satisfação, são factores muito mais evidentes nos jovens oriundos de famílias (pais) autoritários ou permissivos. Demonstram os primeiros, possuirem uma responsabilidade social e interesse pelos outros, maior do que os restantes. Também estes, demonstram uma maior capacidade de expressar comportamentos maduros, socialmente responsáveis, em que o seu ego quanto ao desenvolvimento, demonstram características positivas de uma comunicação familiar, em que a auto expressibilidade se tornou possível pelos estímulos positivos que os pais forneceram à criança, ao jovem e ao adolescente. Será neste ambiente de Família autorizada que o adolescente encontra a estabilidade emocional que precisa, sentindo segurança, pois este pressente, julgando e analisando, que nesta Família onde se desenvolve, todos os membros denotam e demonstram uma grande confiança apropriadas, e que mesmo em circunstâncias difíceis, a Família permanecerá unida. E será através dos exemplos parentais, nas famílias autorizadas, que o adolescente encontra a sua própria "paz", onde encontra um"ambiente" propício à sua auto-expressão.

    Chegados a este momento da nossa reflexão, podemos considerar que o comportamento quase patológico de muitos adolescentes se deverá, efectivamente, a situações de conflito quase institucional no seio da Família, e principalmente, desde a idade em que começou a problematizar, onde..., onde a insatisfação ou desequilíbrios conjugais constituem uma fonte de tensão, com os quadros inerentes a esta situação, como quezílias, alcoolismo, dependência de químicos, etc... .

    Se considerarmos que para a formação do adolescente contribui em larga escala o que atrás ficou expresso, e para que este venha a obter uma autonomia de valores, de forma a que cultive a sua independência e que vá largando sucessivamente e atempadamente a sua "dependência" dos colegas e das figuras de autoridade, demonstrando assim uma clareza percepcional e já adquirida às componentes cognitiva e emocional. Aqui, já o adolescente se libertou de todo o processo de identificação com os pais ou (e) com a Família, criando a sua própria independência, satisfazendo assim as suas necessidades primárias.

    Assim, julgamos poder supor, que as transformações profundas que o jovem adolescente sofre nesta fase da sua vida, a adolescência não será, tão somente, um processo lento, mas também perturbador, em saber criar a sua própria identificação, libertando a identidade que tinham com os pais.



    Não nos iremos debruçar o que motiva a violência no seio familiar, contudo e tão somente como apontamento, para uma situação preocupante hoje em dia, em que o adolescente está sujeito.


  • Podemos considerar as seguintes situações de violência:

    Emocional
    Física
    Sexual

    São os abusos emocionais os mais vulgares, mas também os mais difíceis de provar, nas classes sociais com índices intelectuais mais desenvolvidos; as violências físicas e sexuais, serão, provavelmente, nas restantes classes; os últimos, os sexuais, com maior expressão nas classes sociais, onde impera o analfabetismo, o alcoolismo, a indigência.

    Estes abusos que os pais e outros familiares, experienciam ou já experienciaram sobre as crianças, jovens e (ou) adolescentes, são muitas das vezes, fruto de uma insatisfação, tensões sociais acumuladas, e (ou) por terem sofrido, também aquando jovens, das mesmas formas de violência.


    Terminamos com a reflexão:


  • «Uma das importantes funções da Família consiste em ajudar a estabelecer uma certa continuidade entre as aprendizagens da infância e as novas exigências da adolescência e da vida adultas» (Collins W. Andrews & Sprinthall Norman A., Psicologia do Adolescente, pág. 321).





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