Cruz Alves - Reflexão sobre a Adolescência - Parte III


  • A Identidade e o EU


  • Reflectindo


  • Deve saber-se "acomodar" o adolescente pra que se sinta cómodo com o seu novo corpo e não inquietude e muito menos vergonha. Este surto de crescimento a que os adolescentes estão sujeitos, provocam-lhes situações"desajeitadas", uma (in)compreensível sede de ser diferente, de se mostrar autónomo, de se libertar da tutela parental, enfim de ser totalmente independente em relação ao "cordão umbilical" dos pais. Prefere as companhias dos outros jovens à dos pais e restantes familiares, convivendo mais ou menos intensamente em grupo, já que o grupo para ele representa a segurança que procura, pois todos se regem pelos mesmos padrões de pensamento, comportamento, tendo os mesmos gostos, dúvidas, anseios, ídolos e mistérios. O Social para os jovens adolescentes provoca ansiedades pois estes "compreendem" que está próxima a sua entrada no mundo dos adultos, onde lhes são exigido "coisas" que eles ainda não dominam, como constituir família, ter uma profissão, sustentar as responsabilidades numa sociedade cada vez mais tolerante mas mais exigente em especificidades de funções, onde esta mesma sociedade lhes exige comportamentos valorativos de honra, dignidade, profissão ganhadora, mas que não conseguem vislumbrar na prática, muitas vezes, no mundo dos adultos esses mesmos valores, donde sobressaem a prostituição de valores, o divórcio, a incompetência, a desonra, a violência, a falta de coerência, a hipocrisia política, o desemprego, a calúnia, a pedofilia, a droga, os estudos que já não são garante absoluto de arranjar emprego (o estudar para o nada!!!), a corrupção, e..., etc...etc... .


    Todas estas assincronias sociais e influências sócio-culturais, concomitantemente com a "disfunção" hormonal a que o adolescente está sujeito, são factores potenciadores para que este sofra no seu psíquico "chicotadas" que pela sua permanência diária tornam-lhe áreas de desconforto emocional bastante acentuadas e com efeitos psicológicos que poderão ser traumatizantes.


    Contra todo este "status quo" o adolescente quer ser diferente, porque para isso também sente ter estatuto social para exigir a sua própria diferença e a poder mostrar, com direito à diferença no vestir, na música, no espectáculo, principalmente naqueles que são ao ar livre com bandas de rock mais ou menos pesadas (heavy metal), ou outras que ainda os catalisam como as bandas de música dos anos sessenta, vidé Rolling Stones. Aqui ele já passou através da fase da puberdade fisiológica para se colocar já na puberdade mental, mais de aprofundamento do Ser e uma tomada de consciência do Eu, apresentando-se já como um adolescente "maduro" onde se insere uma autonomia e uma inserção na idade adulta, fazendo-se acompanhar, por vezes, com o seu Pai ou Mãe, partilhando com isso sentimentos de auto-estima e conivência intelectual de diferenciação de gerações mas com laços culturais comuns. Aqui o adolescente já deixou a imaturidade afectiva e o infantilismo de carácter, passando a compartilhar parcialmente do mundo do adulto, mas não compartilhando a sua adultez. Será um período novo de reflexão, onde o adolescente mergulha numa nova fase de sua vida, analisando-a mais profundamente a que M. Debesse (Debesse, M. La crise d´originalité, Alcan, Paris 1936), chamou a idade do «culto do Eu». Desta forma o adolescente está a preparar-se para dar entrada no mundo do adulto, mas não necessariamente igual ao dos seus pais e demais adultos de geração mais avançada. Diremos mais, necessariamente e obrigatoriamente diferente para que se sinta bem no mundo dos adultos com a intelectualidade que construiu nas passagens metamórficas de construção de identidade próprias durante a adolescência, onde "fabricou" a sua própria originalidade.

    Não podemos esquecer as situações de conflito evidentes por que passou até atingir este estádio, principalmente com os seus pares mais directos, estamos a referirmo-nos a seus pais; que por vezes, não compreendendo que estes já não lhes pertencem, mas sim ao mundo, à sociedade em geral, fazem com que apareçam situações de conflito latentes e permanentes. Citando (Sampaio, D., Inventem-se Novos Pais, Caminho, Lisboa 1994, pág. 33), e reportando-se aos pais afirma: (...) confrontam-se agora com uma jovem geração habituada a pô-los em causa e a exigir sem medo. Efectivamente os adolescentes de hoje, estão habituados a exigir muito mais dos pais e da sociedade em geral, sem receios, do que as gerações anteriores, principalmente aquela que vivenciou o Maio de 1968 / 69. Os pais para que o seu diálogo floresça junto do adolescente terão que recordar que a família como instituição mudou muito desde o momento em que foram jovens, e que um diálogo democrático será muito mais bem adoptado do que o autocrático, sendo de muito mais fácil aquisição, compreendido e estimulado pelo ainda egocentrismo (combater o discurso da "narrativa pessoal") e a imagem do "público imaginário" e o alocentrismo (não patológico), do adolescente, construindo a sua identidade própria. Também se deverá estimular a diferenciação de ideias, conceitos, opiniões estimulantes, para que não haja uma similitude da "coisificação", mas sim diferentes perspectivas de estudar o fenómeno da adolescência, mas e também da actual sociedade em que todos se inserem.

    Para concluir esta pequena reflexão, dever-se-á criar uma situação de conforto psíquico para que o adolescente possa criar uma autonomia (afirmação de um Eu consciente), uma adaptação ao real (abandono dos fantasmas de omnipotência), e uma integração social plenas.






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